Servir o café da manhã, escolher a roupa para a escola, conversar sobre os medos da noite anterior, buscar juntos uma solução para o brinquedo que quebrou. A rotina das crianças está repleta de oportunidades para que os pais participem de forma efetiva, sensível e constante da criação de seus filhos. A paternidade ativa se constrói justamente nesses momentos cotidianos, onde presença, escuta e afeto fazem toda a diferença.
A figura do pai vem ganhando novos contornos ao longo dos últimos anos. Se antes era visto quase exclusivamente como o provedor financeiro, hoje se espera que também exerça um papel emocional e educativo dentro da família. Essa mudança não é apenas um reflexo de novas dinâmicas familiares, mas uma necessidade reconhecida por educadores, psicólogos e pesquisadores do desenvolvimento infantil.
Estudos apontam que o envolvimento paterno desde os primeiros anos impacta positivamente diversas áreas da vida da criança: rendimento escolar, autorregulação emocional, empatia, autoestima e habilidades sociais. Isso porque a criança que convive com uma figura paterna presente e participativa se sente valorizada e segura, o que amplia sua confiança para explorar o mundo, lidar com frustrações e desenvolver autonomia.
“Quando o pai participa com constância e afeto, a criança cresce com mais estabilidade emocional e senso de pertencimento”, afirma Letícia Dorighello, diretora pedagógica do Colégio Prígule, de São Paulo.
Participação genuína
Não se trata apenas de “ajudar” de forma esporádica, mas de compartilhar as responsabilidades do cuidado com intencionalidade e disponibilidade. A paternidade ativa exige que o pai se comprometa com as rotinas, acompanhe o desenvolvimento dos filhos e se envolva em decisões cotidianas, desde a organização da mochila até a conversa sobre uma briga na escola.
É preciso, também, estar emocionalmente acessível. A criança precisa perceber que pode contar com o pai não apenas para tarefas práticas, mas também para desabafos, dúvidas, frustrações e conquistas. Quando o pai ouve com atenção, valida sentimentos e orienta com paciência, transmite ao filho a mensagem de que seus sentimentos importam.
O exemplo é um dos pilares mais potentes da educação. Crianças aprendem muito mais observando o comportamento dos adultos do que apenas ouvindo instruções. Um pai que resolve conflitos com respeito, assume erros e expressa suas emoções de forma saudável contribui para a construção de uma masculinidade menos rígida e mais consciente.
O impacto desse modelo vai além do núcleo familiar. Meninos e meninas que convivem com pais cuidadosos tendem a reproduzir atitudes mais empáticas, colaborativas e responsáveis em seus próprios círculos sociais. O cuidado deixa de ser visto como função exclusiva das mães e passa a ser compreendido como um compromisso humano e coletivo.
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos culturais e estruturais que dificultam a consolidação da paternidade ativa. Muitos homens cresceram sem esse exemplo dentro de casa, o que dificulta a construção de novas práticas. Além disso, o mercado de trabalho ainda apresenta barreiras importantes, como jornadas excessivas, ausência de licenças parentais adequadas e preconceitos em relação à presença paterna nas tarefas domésticas e escolares.
Desconstruir essas barreiras demanda esforço e apoio. Campanhas de conscientização, políticas públicas de incentivo à paternidade ativa e, principalmente, o acolhimento aos pais por parte da sociedade e das instituições educativas são passos importantes nesse caminho.
Ambiente escolar
É fundamental que os pais sejam convidados a participar ativamente da vida dos filhos. Isso não significa apenas comparecer a eventos ou reuniões, mas se envolver no cotidiano escolar, conversar sobre as atividades, acompanhar o progresso e estar disponível para o diálogo com professores e orientadores.
Esse vínculo entre família e escola é essencial para o desenvolvimento integral da criança. Quando o pai demonstra interesse pelas experiências do filho e reconhece o valor da educação, ele colabora para fortalecer a autoestima e o engajamento da criança. Ao mesmo tempo, constrói com ela um espaço de confiança e cumplicidade.
A paternidade ativa também contribui para relações familiares mais equilibradas. Ao dividir as tarefas e decisões com a mãe, o pai contribui para a construção de uma dinâmica mais justa e colaborativa. Isso reduz a sobrecarga das mulheres e permite que os filhos cresçam em um ambiente onde a parceria e o diálogo são valorizados.
Importante lembrar que a paternidade ativa não depende da configuração familiar. Pais separados, casais homoafetivos, famílias reconstituídas ou monoparentais também podem – e devem – exercer esse papel de forma efetiva. O que define a qualidade da paternidade não é a estrutura, mas o comprometimento e a constância nas relações.
Outro aspecto que merece atenção é o acolhimento aos erros. Muitos pais se cobram por não saber como agir em determinadas situações ou por terem cometido falhas no passado. No entanto, a construção da paternidade ativa não exige perfeição, e sim disposição para aprender, rever atitudes e recomeçar.
Participar do cuidado diário, organizar o tempo para estar presente, reconhecer as emoções dos filhos, dialogar com empatia e manter uma presença constante são atitudes que moldam vínculos sólidos. A criança que se sente escutada e amparada aprende a confiar no mundo e em si mesma.
A presença do pai também tem efeito direto sobre os aspectos cognitivos do desenvolvimento. Um estudo publicado na revista “Infant and Child Development” apontou que bebês que recebem mais atenção e estímulos dos pais têm melhor desempenho em tarefas que exigem concentração, memória e tomada de decisão. Isso se deve, em parte, à qualidade da interação e ao fortalecimento dos laços afetivos desde a primeira infância.
Além disso, o envolvimento paterno está relacionado à diminuição de comportamentos agressivos e ao aumento da empatia. A segurança afetiva promovida pela paternidade ativa funciona como uma proteção contra dificuldades emocionais futuras, como ansiedade, baixa autoestima ou dificuldades de socialização.
Esse cuidado contínuo também prepara a criança para enfrentar desafios com mais equilíbrio. Saber que pode contar com um adulto que valida suas emoções, orienta com firmeza e acolhe com ternura dá à criança uma base sólida para lidar com frustrações, perdas e decisões importantes ao longo da vida.
A longo prazo, a paternidade ativa ajuda a construir uma sociedade mais justa e empática. Ao ensinar pelo exemplo o valor do cuidado, do diálogo e do respeito, os pais contribuem para a formação de cidadãos mais conscientes e comprometidos com o bem coletivo.
O exercício diário da paternidade exige coragem para romper padrões, humildade para reconhecer os próprios limites e sensibilidade para ouvir o que as crianças têm a dizer. Mas é justamente nesse processo que reside a beleza de educar com presença e verdade.
A escolha de estar ao lado do filho em sua trajetória, acompanhando cada descoberta, apoiando cada passo e acolhendo cada dúvida, transforma não só a criança, mas também o próprio pai. A paternidade ativa não é apenas um modelo familiar mais justo; é um caminho de desenvolvimento humano.
Para saber mais sobre paternidade ativa, visite https://www.meer.com/pt/80720-a-importancia-da-paternidade-ativa-na-infancia

