Em uma sociedade que valoriza a rapidez, o prazer imediato e a ausência de desconforto, aprender a lidar com a frustração tornou-se um dos maiores desafios emocionais das novas gerações. No entanto, a frustração é uma experiência essencial — ela ensina sobre limites, paciência, esforço e resiliência. Mais do que simplesmente “suportar o não”, é preciso compreender o que se sente diante dele, e é aí que entra a importância da nomeação dos sentimentos.
Frustração: uma emoção que ensina
A frustração surge quando algo não acontece como desejado — um brinquedo que quebra, uma resposta negativa, um resultado diferente do esperado. Embora muitas vezes vista como algo a ser evitado, ela é, na verdade, um exercício de amadurecimento emocional.
Ao permitir que a criança sinta frustração e aprenda a lidar com ela, damos a oportunidade de desenvolver competências fundamentais
- Autocontrole e tolerância à espera;
- Persistência diante dos desafios;
- Capacidade de adaptação e resolução de problemas;
- Compreensão de alteridade, ou seja, que o outro também tem limites e vontades distintas das suas.
Entretanto, a frustração só cumpre seu papel educativo quando vem acompanhada de acolhimento e linguagem emocional.
A importância de nomear sentimentos
Nomear sentimentos é o primeiro passo para aprender a regulá-los. Quando o adulto ajuda a criança a colocar em palavras o que está sentindo — “Você ficou bravo porque o jogo acabou”, “Parece que você está triste porque o amigo não quis brincar” —, ela começa a reconhecer, compreender e dar sentido às próprias emoções.
Essa prática reduz comportamentos impulsivos, melhora a comunicação e fortalece o vínculo entre pais e filhos. Segundo um estudo publicado na revista Frontiers in Psychology (2022), crianças que desenvolvem vocabulário emocional apresentam menores níveis de agressividade e maior empatia nas interações sociais.
As implicações e problemáticas da ausência desse aprendizado
Quando as emoções são ignoradas ou reprimidas, a criança pode crescer com baixa tolerância à frustração, demonstrando comportamentos como:
- Crises intensas diante de negativas ou erros;
- Dificuldade de aceitar regras ou limites;
- Ansiedade e insegurança emocional;
- Dificuldades em resolver conflitos com colegas e familiares.
Essas dificuldades não ficam restritas à infância — refletem-se também no ambiente escolar e familiar, gerando cansaço emocional nos pais, conflitos domésticos e, muitas vezes, custos adicionais com apoio pedagógico ou psicológico.
Além disso, ao tentar “poupar” os filhos de qualquer sofrimento, muitos adultos acabam impedindo o desenvolvimento da resiliência emocional, que é essencial para lidar com as inevitáveis contrariedades da vida adulta.
Dica de ouro Prígule
Como os pais podem contribuir?
Existem estratégias simples, mas poderosas, que ajudam a transformar momentos de frustração em oportunidades de aprendizado:
- Acolha, mas não evite: permita que a criança sinta e expresse a frustração, mostrando que o sentimento é legítimo.
- Nomeie os sentimentos: use frases como “Percebo que você ficou bravo porque queria continuar jogando” ou “Você está decepcionado, não é?”.
- Modele o comportamento: mostre como você mesmo lida com suas próprias frustrações de maneira saudável.
- Elogie o esforço, não só o resultado: isso ensina que errar faz parte do processo.
- Use histórias e livros infantis: narrativas com personagens que enfrentam e superam dificuldades ajudam a criança a se identificar e refletir sobre emoções.
Reflexão final
A frustração, quando vivida e compreendida, é um instrumento de crescimento. E quando associada à nomeação dos sentimentos, torna-se uma aliada poderosa no desenvolvimento emocional. Crianças que aprendem a reconhecer o que sentem tornam-se adultos mais empáticos, seguros e preparados para enfrentar o mundo com equilíbrio.
No Colégio Prígule, acreditamos que educar também é ensinar a sentir. É acolher o choro, entender a raiva e celebrar o amadurecimento que nasce quando a criança aprende que sentir — inclusive o que é desconfortável — também é uma forma de aprender.
Bruno Moreira
Orientador Educacional

