Na avaliação socioemocional que realizamos com os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio no 1º semestre, uma parceria da OPEE e do Instituto Ayrton Senna, saber ser “tolerante à frustração” foi a competência que apareceu em TODAS as turmas como a menos desenvolvida.
Com isso, convido você para uma reflexão acerca dessa temática!
Em um mundo cheio de desafios e incertezas, a habilidade de gerenciar nossas emoções é fundamental para o nosso desenvolvimento pessoal. A frustração surge como uma emoção quando nossos desejos, expectativas ou necessidades não são atendidos.
Quem, na falta de um brinquedo, já usou um chinelo para simular um carrinho/avião ou fez do graveto ou cabo de vassoura uma espada para enfrentar um inimigo poderoso (que, na verdade, era o seu vizinho ou irmão)?
Assim é atravessada a infância de uma criança quando provavelmente foi frustrada pelo seu desejo de possuir uma espada, carrinho ou avião. Assim, vemos que a frustração nos estimula a nos tornarmos mais criativos perante os impeditivos da nossa jornada. Puxando um gancho entre a frustração e a criatividade, gostaria de lembrar alguns nomes que, somente após um número de frustrações, somado à persistência, tiveram grande êxito em suas vidas.
Thomas Edison
Um inventor conhecido por seus muitos fracassos, bem antes de ser conhecido por seus sucessos, Thomas Edison foi considerado “muito burro para aprender qualquer coisa”, de acordo com um de seus primeiros professores. No entanto, todo mundo conhece o nome do homem responsável pela invenção da lâmpada – mesmo que ele tenha feito 1.001 tentativas antes de acertar. Sua perseverança com esta invenção incorpora claramente a sua afirmação: “Eu não falhei 10.000 vezes – eu fui bem-sucedido, pois encontrei 10.000 maneiras que não funcionaram.”
Walt Disney
Até o chefe do maior império de animação do mundo teve uma fase difícil. Em 1919, ele foi demitido do jornal Kansas City Star porque “faltava imaginação e ele não tinha boas ideias”, de acordo com o seu editor.
Taylor Swift
Ela tinha apenas 11 anos na época, mas a jovem e ambiciosa TSwift teve que lutar no início para encontrar uma gravadora em Nashville, Tennessee, que assinasse um contrato com ela. Durante as férias de primavera da escola secundária, ela fez um CD demo de seus covers de karaokê das estrelas country como Dolly Parton, Dixie Chicks e LeAnn Rimes para o Music Row e entregou cópias a tantas recepcionistas de gravadoras quanto podia, mas ela disse que ninguém a queria porque “todo mundo naquela cidade queria fazer o mesmo que eu queria fazer.”
Ela claramente encontrou seu nicho, embora esta princesa musical, desde então, tenha aprendido a tocar vários instrumentos, tomado conta do cenário country e pop-rock do país e desafiado abertamente uma das mais famosas empresas de música streaming.
Albert Einstein
Einstein teve um início tardio, não falou até os 4 anos e aprendeu a ler aos 7 anos. Esses desafios não o impediram de ganhar o Prêmio Nobel de Física pela descoberta do efeito fotoelétrico e por desenvolver a teoria da relatividade. Sem dúvida, o pessoal da Escola Politécnica de Zurique lamenta ter rejeitado inicialmente o homem cujo nome é hoje sinônimo de “gênio”.
A chamada “Falta Estrutural”
Lacan, psiquiatra e psicanalista importante de sua época (1901-1981), nos lembra que a psique possui uma Falta Estrutural a qual buscamos preencher, considerando que em momentos remotos obtivemos este objeto fictício e simbólico chamado “objeto A”. Segundo Lacan, este mesmo suposto “objeto A” perdido é o que mobiliza toda a esfera do desejo a qual nos lançamos ao mundo externo na tentativa de reencontrar isso que nos “falta”.
A boa notícia, já adianto a vocês, é que esse objeto “A”, perdido, é meramente imaginário; portanto, não há nada perdido factualmente. A má notícia é que percebemos e construímos a realidade do mundo através das circunstâncias do que imaginamos, por isso, precisamos estar atentos e advertidos, pois, inevitavelmente, haverá brechas para a frustração, pois ela carrega consigo o sinônimo da falta mencionada acima.
Por isso, enfrentar as frustrações diárias é um desafio comum às pessoas de todas as idades, desde crianças até adultos. Não lidar com essa emoção pode desencadear diversos fatores ruins para a vida da pessoa, como dificuldades em alcançar metas, conflitos por irritação, raiva ou até por situações simples cotidianas que não saem como o esperado.
Tolerância à frustração
A tolerância à frustração, portanto, é a habilidade de lidar com a insatisfação e a decepção de maneira saudável, sendo crucial para nosso desenvolvimento emocional e psicológico. Ela nos permite superar desafios e seguir em frente, mesmo quando as coisas não saem como esperamos.
Além disso, essa habilidade envolve a gestão eficaz de emoções negativas, como raiva, irritação, tristeza e desânimo. Refere-se à capacidade de manter a calma diante de obstáculos e enfrentar situações que não se desenrolam como desejado. Ao desenvolver essa tolerância, conseguimos evitar reações impulsivas e responder de maneira construtiva e assertiva às dificuldades que surgem ao longo da vida.
Mas, como ser tolerante às frustrações na prática? Na hora em que estamos bravos, descontentes, contrariados?
- Reconheça suas emoções: Reconheça, entenda e gerencie suas emoções. Esse é um passo fundamental para o autoconhecimento e o bem-estar emocional. Aceite que a frustração é uma reação natural. Permita-se sentir essa emoção, mas não deixe que ela controle suas ações.
- Desenvolva o Autocontrole: Autocontrole é a capacidade de regular e gerenciar suas emoções, comportamentos e impulsos. Envolve a capacidade de agir de forma consciente, mesmo em situações difíceis.
- Seja mais Resiliente: Ser resiliente é a capacidade de se adaptar e se recuperar diante de adversidades, estresse e desafios. A resiliência envolve não apenas a habilidade de enfrentar dificuldades, mas também de aprender e crescer com essas experiências.
- Pratique a respiração consciente: Técnicas de respiração podem ajudar a acalmar a mente e o corpo quando você sente emoções negativas.
- Pratique o autocuidado: Cuide de sua saúde física e mental, incluindo exercícios, alimentação saudável e momentos de lazer.
- Busque soluções: Em vez de se fixar no problema, concentre-se em encontrar alternativas e soluções práticas.
- Cultive a empatia: Tente entender as perspectivas dos outros e reconheça que todos enfrentam desafios.
- Exercite a paciência: Lembre-se de que as coisas nem sempre acontecem rapidamente. Dê a si mesmo o tempo necessário para lidar com a situação.
- Mantenha uma atitude positiva: Foque nos aspectos positivos e nas lições que podem ser aprendidas a partir da frustração.
- Desenvolva habilidades de resolução de problemas: Pratique abordar problemas de forma estruturada, o que pode ajudar a aumentar sua confiança em lidar com dificuldades.
Procure apoio: Converse com amigos, familiares ou profissionais sobre suas frustrações. Compartilhar experiências pode aliviar a carga emocional.
Consegue perceber que as coisas que acontecem consigo tem a ver somente com você, por mais que o outro ou a situação pareçam os culpados?
A responsabilidade em lidar com essa emoção é totalmente individual, por isso, ficam as reflexões: Você tem prestado atenção aos seus sentimentos e emoções? Você tem buscado ajuda quando se sente estressado, chateado ou preocupado?
A partir dessa consciência é possível entrar no processo para o desenvolvimento da competência de tolerar as frustrações da vida.
E vamos juntos, porque eu também estou nessa jornada!
Texto de Bruno Moreira